Isso foi numa noite escura de terça-feira, quando eu resolvi selecionar alguns dos questionamentos que O. Montenegro traz na musica "A lista", e quando fui tentar responde-los as memórias que eu tinha estavam morando em um orgão encefálico que esquecem de mencionar nas aulas de Biologia: Lixeira do que está perdido. E nessa lixeira eu comecei a encontrar as migalhas dos meus grandes amigos e amores, dos meus sonhos antigos.. e foi só o que encontrei: migalhas, e nada mais. Essa saudade de migalhas que um dia já foram concretas, completas e muito bem cuidadas, começou a transbordar pelos meus olhos, e fui rapidamente ao telefone e ao correio, mas os meus contatos do passado estavam apagados na memória, e por mais que eu tentasse não conseguia reescreve-los. O escuro da noite, começou a entrar no meu quarto fazendo ficar mais notável ainda que a luz que existia à algum tempo atrás tinha se apagado, não me deixando ter de novo o que hoje, eu não conseguia lembrar. O que eu estava sentindo não era saudade, era a sensação de perda. Como se eu jogasse tudo fora sem notar que o vento lá fora despedaçaria as imagens que eu guardava na memória, e talvez quando eu sentisse necessidade os pedacinhos que tivessem sobrado não poderiam ser colados,para que eu revivesse o que eu não soube cuidar.
E agora eu quero, e quero com todo o cuidado do mundo que no futuro eu saiba armazenar as imagens do meu presente, para quando surgir outros questionamentos envolvendo um passado que não deveria ter sido jogado fora, eu conseguir responde-los sem saudade transbordando os meus olhos. E que eu saiba lidar com essas imagens, não as deixando tomar conta do meu futuro presente. E que nunca mais a minha lixeira fique cheia.
As minhas lembranças agora, não serão só pedaços de fotografias e restos de cartas, serão inteiras e coloridas.
Joana Figueiredo.